
Kim Ho-yeon compartilha inspirações e paixão pela literatura brasileira na Bienal do Livro
A Bienal do Livro começou neste fim de semana na cidade do Rio de Janeiro e, no domingo (15), um dos principais destaques do evento literário foi o escritor sul-coreano Kim Ho-yeon, autor do best-seller ”A Inconveniente Loja de Conveniência”, que já ultrapassou a marca de 1,7 milhões de exemplares vendidos e foi traduzido para 15 idiomas. Durante sua participação, o autor esteve em dois painéis de conversa, nos quais compartilhou seu processo criativo e revelou detalhes sobre a futura adaptação de seu livro de maior sucesso para K-drama.
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O primeiro painel aconteceu no início do terceiro dia de Bienal, na Praça Além da Página Shell, e foi mediado pelo apresentador Pakkun. Nessa conversa inicial, Kim explicou que prefere escrever sobre temas simples e cotidianos, que geram identificação imediata com o leitor, independentemente de onde ele esteja. Para ele, o mais interessante é contar histórias que todo mundo já viveu ou poderia viver.
O autor comentou que, ao escrever a obra, quis retratar a loja de conveniência como um espaço de encontro e diálogo, um local onde as pessoas se reúnem para conversar e desabafar. No entanto, ele reconheceu que, na Coreia do Sul, esse tipo de interação não é comum nesse tipo de ambiente, que costuma ser mais silencioso e voltado ao consumo rápido entre compromissos.

Kim também revelou que se inspirou em características de seus vizinhos ao construir alguns personagens, embora saiba que eles provavelmente não gostariam de saber disso. Com bom humor, brincou dizendo que escritores costumam ter poucos amigos, já que muitos têm medo de virar personagens. Acrescentou ainda que, depois do quinto livro (número que ele já ultrapassou), os autores começam a dominar a arte de criar personagens com mais naturalidade.
Durante a conversa, o autor teve a oportunidade de experimentar comidas típicas brasileiras, como refrigerante de guaraná, cocada, brigadeiro, coxinha e biscoito de polvilho. Kim não demonstrou rejeição a nenhum item e, por diversas vezes, comentou que alguns sabores combinariam bem com cerveja ou cachaça. Atendendo à sugestão, uma cerveja brasileira foi servida a ele, que a provou acompanhado de uma coxinha. Ao final do painel, a editora Bertrand Brasil, responsável pelos lançamentos do autor no país, distribuiu snacks e lámen coreano para o público.
Entre prateleiras e afetos com Kim Ho-yeon
No segundo painel, já durante a tarde, Kim foi recebido pela escritora e curadora da Bienal do Livro 2025, Thalita Rebouças. O bate-papo foi mediado pelas apresentadoras do podcast Sarangbang, Bruna Giglio e Denise Nobre. Durante a conversa, o autor contou que começou a idealizar seu livro depois que um amigo anunciou a abertura de uma loja de conveniência na Coreia. Inicialmente, achou a ideia “inconveniente”, pois conhecia o perfil pouco comunicativo do amigo e não o via atendendo bem ao público.

No entanto, ao visitar a loja, surpreendeu-se ao ver o amigo completamente à vontade. Kim confessou que também se sentiu confortável naquele ambiente, e foi daí que surgiu o título da obra ”A Inconveniente Loja de Conveniência”, uma mistura da impressão inicial com a atmosfera acolhedora que encontrou no local. O autor contou ainda que, em países como Espanha, Alemanha e Polônia, o título da obra foi modificado, perdendo o paradoxo e a ironia originais. Ele destacou que, além da Coreia do Sul, o Brasil foi o único país que conseguiu manter a ideia original do título, demonstrando cuidado e sensibilidade por parte da equipe editorial brasileira.
Kim também revelou que, após o sucesso do livro, um roteiro para uma possível adaptação como k-drama está em desenvolvimento. A pesquisa de elenco já foi iniciada e dois nomes estão sendo cogitados para os papéis principais: os atores Cha Seung-won e Jo Jin-woong. No entanto, por se tratar de uma produção de grande porte, o processo ainda está sendo conduzido com cautela.
Influências brasileiras para Ho-yeon
Apaixonado pela literatura brasileira, Kim mencionou que já leu diversos autores do país, como ”Dias Perfeitos”, de Raphael Montes, ”A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha, e obras de Clarice Lispector. Ele destacou que o livro de Batalha o emocionou profundamente por ilustrar com sensibilidade a condição das mulheres, algo que, segundo ele, se assemelha muito à realidade das mães coreanas. Essa influência brasileira é perceptível no segundo volume da duologia, no qual Kim menciona o clássico Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos.
Kim Ho-yeon também falou sobre seu novo livro, ”Meu Dom Quixote Coreano”, inspirado na obra do espanhol Miguel de Cervantes. O título está sendo lançado no Brasil pela Bertrand Brasil e acompanha a história de um grupo de amigos que se reúne em uma antiga videolocadora transformada em cafeteria. A narrativa aborda temas como sonhos, amizade, autoconhecimento e a busca por um propósito, ambientada no cenário urbano da Coreia do Sul.
Segundo Kim, o projeto começou a tomar forma em 2019, após um período de estudos em Madrid, mas seu lançamento foi adiado por conta da pandemia e da publicação da duologia anterior. O livro é, segundo ele, uma homenagem aos sonhadores e àqueles que se atrevem a seguir seus corações, mesmo diante dos desafios.
Ao final do painel, o autor respondeu a perguntas do público. Em uma delas, feita pelo portal Korean Magazine BR, Kim foi questionado sobre qual seria seu próximo desafio literário, já que gosta de explorar novos enredos e gêneros. Ele revelou que deseja escrever um melodrama, um romance mais emocional, mas confessou que considera essa tarefa difícil, pois ainda não descobriu uma forma de desenvolver esse tipo de história.
Ao se despedir, Kim Ho-yeon afirmou que estar na Bienal é fruto do amor dos leitores pelas suas obras, e que espera poder ter esse encontro novamente. Ele ressaltou que sempre escreve pensando nos leitores, e que os leitores brasileiros estarão em sua mente, pois sempre se lembrará deles ao criar suas histórias.
Foto Destaque: Kim Ho-yeon na Bienal do Livro do Rio de Janeiro (Foto: Anna Luiza Nogueira/Korean Magazine BR)