
Review | Gachiakuta Episódio 1: Paraíso
Com uma estreia intensa e cheia de personalidade, Gachiakuta chegou ao catálogo da Crunchyroll como uma das apostas mais audaciosas da temporada. O primeiro episódio apresenta ao público um universo distópico onde desigualdade, preconceito e exclusão social não são apenas pano de fundo, mas forças que movem toda a trama.
Dirigido por Fumihiko Suganuma e animado pelo renomado estúdio Bones, o anime aposta em uma estética agressiva, cores pulsantes e uma ambientação suja e realista para criar um contraste visual poderoso com as temáticas abordadas. E essa combinação funciona.
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Logo nos primeiros minutos, o espectador é jogado em um mundo dividido entre a elite que vive na chamada “Esfera” e os “tribais”, que habitam as áreas mais pobres e marginalizadas. A sociedade retratada em Gachiakuta é marcada por regras autoritárias, preconceitos enraizados e uma clara separação entre quem tem valor e quem é tratado como lixo, literalmente. E é exatamente essa metáfora do lixo que guia todo o simbolismo da narrativa.

Rudo: um protagonista que brilha no caos
É nesse cenário distorcido que conhecemos Rudo, um jovem órfão com um olhar sensível e um comportamento inquieto. Ele é o tipo de personagem que desafia o arquétipo comum do herói shonen: não é movido apenas pela superação ou pelo sonho de se tornar o mais forte. Em vez disso, ele busca encontrar significado naquilo que o mundo ignora. Sua ligação afetiva com o lixo, objetos jogados fora, quebrados, desprezados, é também uma forma de resistência diante de uma sociedade que o rejeita por completo.
Apesar de ser julgado como “filho de um assassino” e excluído por boa parte da comunidade, Rudo é retratado com uma humanidade crua e real. Seus momentos de ingenuidade, carinho e revolta o tornam mais do que um mero protagonista carismático: ele representa uma geração que questiona os sistemas, que sente na pele as injustiças e que não aceita calado as imposições de um mundo desigual. O fato de seu único apoio vir de Regto, um homem bondoso que o acolheu como pai, só reforça a fragilidade da rede de apoio em um mundo que pune até os inocentes.

O peso da injustiça e a dor do abandono
A verdadeira virada do episódio acontece quando Rudo encontra Regto ferido mortalmente e é surpreendido por um acusador misterioso. Sem provas, sem chance de defesa, ele é condenado de forma sumária e jogado no Abismo, uma gigantesca lixeira onde não apenas resíduos, mas vidas inteiras são descartadas. Esse momento marca o fim da ingenuidade e o início da revolta. E a escolha de mostrar a queda de Rudo de forma tão brutal, tanto visual quanto emocionalmente, é um acerto.
Ao chegar no Abismo, o protagonista desperta em um ambiente hostil, cercado por montanhas de lixo e criaturas grotescas. Mas antes de cair, ele grita. Um grito de dor, sim, mas também de resistência. É nesse instante que o anime crava sua principal mensagem: aquilo que é jogado fora ainda pode ter valor. E quem é considerado “descartável” ainda tem voz.

Animação ousada e trilha sonora visceral elevam a experiência
A direção de arte de Gachiakuta merece um destaque à parte. Ao contrário da maioria dos animes com proposta distópica, que optam por tons escuros e paletas neutras, aqui o excesso de cor é proposital. A superfície, o mundo da elite, é retratada com tons quase doces, uma espécie de “céu de algodão-doce” que mascara o autoritarismo e a repressão. Já o Abismo é dominado por texturas rudes, sombras agressivas e uma movimentação frenética que causa desconforto. E esse desconforto é essencial: o espectador precisa sentir o que Rudo sente para que a imersão seja completa.
A trilha sonora contribui para essa atmosfera com uma mistura de rock, metal e elementos eletrônicos que amplificam as emoções em cada cena. O som não apenas acompanha a ação; ele reverbera o estado interno dos personagens. As composições são intensas, mas nunca invasivas, e ajudam a construir o tom cru e desesperador do episódio. A dublagem, especialmente a de Aoi Ichikawa como Rudo, também merece aplausos: sua entrega vocal transmite, com exatidão, a confusão, a raiva e a dor de um jovem que foi jogado ao fundo do poço.

Um anime com alma, crítica e potencial
Embora este seja apenas o primeiro episódio, Gachiakuta já mostra que não será mais um anime descartável em meio a tantas estreias da temporada. Pelo contrário: sua estreia se destaca por ter alma, crítica social afiada e uma estética que reforça o discurso. A obra não se apoia apenas na injustiça sofrida por seu protagonista, mas a utiliza para discutir temas maiores, como exclusão, manipulação judicial, preconceito estrutural e a falsa ideia de ordem em sociedades autoritárias.
Rudo não é só um garoto jogado no lixo. Ele é o reflexo de milhões de pessoas que são descartadas todos os dias pelo simples fato de não se encaixarem nos moldes impostos. Seu olhar sobre os objetos quebrados, sua ternura com quem lhe estende a mão, e sua revolta diante da injustiça fazem dele um dos personagens mais promissores da temporada.

Por que você deveria assistir Gachiakuta agora
Se você busca um anime que vá além do entretenimento, que provoque incômodo, reflexão e ainda entregue uma animação de ponta, Gachiakuta é uma escolha certeira. Seu episódio de estreia é um soco no estômago, mas também um convite à empatia. A crítica social não está apenas nos diálogos, mas em cada elemento visual, sonoro e simbólico que constrói esse universo tão cruel quanto verossímil.
A jornada de Rudo está apenas começando, mas já é possível ver o potencial dessa narrativa em se tornar uma das mais relevantes do ano. Que o restante da produção mantenha ou eleve esse nível de qualidade e ousadia.
Gachiakuta já está disponível na Crunchyroll.
Foto Destaque: Rudo, protagonista do anime Gachiakuta. Divulgação/Crunchyroll
Review | Gachiakuta Ep. 1: Paraíso
Overall
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Animação
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Direção
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Trilha sonora
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Construção de mundo
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Protagonista (Rudo)
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Narrativa
Descrição
“Paraíso”, episódio 1 de Gachiakuta, apresenta uma estreia poderosa, misturando crítica social, ambientação distópica e um protagonista cativante. Com uma direção visual ousada e trilha sonora intensa, o anime questiona o que a sociedade considera descartável, tanto em objetos quanto em pessoas. Rudo, injustamente condenado e jogado no Abismo, não apenas sobrevive, mas se ergue como símbolo de resistência. Uma estreia impactante que promete muito mais do que ação.”