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Crise do cinema coreano e o crescente uso da IA

A crise no cinema coreano está provocando uma movimentação dos cineastas. Eles passaram a produzir conteúdo de baixo custo e com o uso de inteligência artificial (IA), como forma de contornar a situação. No país, a indústria cinematográfica enfrenta um enfraquecimento nos últimos anos com a redução de produções, alto valor agregado e baixo retorno nas bilheterias. 

O diretor Yeon Sang-ho é um dos adeptos a essas mudanças de comportamento. Ele é conhecido pelo filme “Invasão Zumbi” (2016) e pela série “Profecia do inferno” (2021). Em setembro de 2025, lançou “O Feio” um filme de baixo orçamento que obteve sucesso de bilheteria na Coreia com números que cobriram os custos de produção.

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Filme: O Feio/Divulgação: HANCINEMA

Cerca de 200 milhões de wons (728 mil de reais ) foram gastos para produzir o filme. Os espectadores de “O Feio” chegaram a marca de 1 milhão de pessoas, com uma arrecadação de aproximadamente 11 bilhões de wons (40 milhões de reais), um valor 50 vezes superior ao custo de produção.

Com o sucesso de bilheteria, o diretor já está com o seu próximo filme encaminhado. O novo projeto deve receber cerca de 500 milhões de wons em orçamento (1 milhão e 800 mil reais). O novo filme “Paradise Lost” será lançado pela produtora Yeon e a CJ ENM, que está responsável pela divulgação de “O Feio” no país. 

Yeon comentou sobre o baixo custo da produção após a estreia do filme: “Quando eu era jovem, me inspirava em filmes asiáticos lendários, e a maioria desses filmes eram produções de baixo orçamento. Existe um poder que só os filmes de baixo orçamento possuem”.

Outro recurso que tem sido usado no cinema coreano é a utilização de IA para reduzir o tempo e custo da produção. O diretor Kang Yun-sun, conhecido pelo filme “The OutLaws”, usou da tecnologia em seu trabalho mais recente “ Run to the West”.  O filme possui diversas cenas de perseguição, explosão e desabamento de carros que se utilizaram de I.A. O que levaria de 4 a 5 dias de computação gráfica em uma explosão, por exemplo, foi concluído em 10 minutos com a inovação tecnológica.

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Filme:The OutLaws/ Divulgação: HANCINEMA

Kang destacou as diversas aplicações da I.A no cinema. “Comecei o projeto porque queria provar que, ao fazer um filme com inteligência artificial, é possível implementar efeitos gráficos computadorizados de nível blockbuster mesmo com um orçamento pequeno”, disse ele em uma coletiva de lançamento do filme. 

De acordo com Kang, conseguir investimentos para os filmes pode ser difícil quando eles têm um alto valor na produção. Os criadores são forçados a limitarem a imaginação para caber dentro do orçamento que conseguem. O novo filme do diretor não obteve tanto sucesso no cinema e , embora o uso da IA possa ser uma vantagem, a adesão do público que conta no final.

Outra perspectiva sobre o uso de IA no cinema

Bong Joon-ho é o diretor de “Parasita“, primeiro filme em língua não inglesa a ganhar o Oscar de Melhor Filme ,que possui opiniões contrárias ao uso de IA nas produções. Durante o Festival Internacional de Cinema de Marrakech , no Marrocos, Bong brincou ao dizer que formaria um exército para destruir a IA mas reconheceu o papel da tecnologia em provocar a reflexão sobre os sentimetos humanos.

Além dessa fala, durante uma conferência global realizada em Seul em setembro do ano passado , o diretor disse que a IA foi um choque para a indústria cinematográfica. “Os cineastas falam constantemente sobre IA enquanto comem, tomam café e até mesmo quando vão para casa”, disse ele. “Como a IA abalou tudo em que acreditamos e pelo que somos fascinados em relação ao vídeo, sentimos tanto medo quanto entusiasmo.”

Foto Destaque: Por trás das câmeras do filme “O Feio”/Divulgação/ IMDb