
Carma: análise do episódio 1 do novo thriller coreano da Netflix
A Netflix amplia seu catálogo de obras asiáticas com “Carma”, um thriller sombrio que aposta em dilemas morais, personagens ambíguos e reviravoltas impactantes. Já no episódio de estreia, a série instiga o público ao apresentar uma teia de ações movidas pela ganância, onde as consequências surgem de forma cruel e inevitável. Para os fãs do gênero, é uma obra que convida à maratona — mas não sem antes testar os limites da empatia de quem assiste.
Uma introdução explosiva e cheia de mistério
Logo nos primeiros minutos, “Carma” lança o espectador em uma cena tensa: um homem, amarrado a uma cadeira, é resgatado por bombeiros de um prédio em chamas. A sequência inicial já entrega o tom da série — tenso, denso e intrigante. O homem, identificado como Park Jae-young, sobrevive, mas está gravemente ferido. Sua chegada ao hospital provoca uma reação inesperada em uma médica, interpretada por Shin Mina, levantando dúvidas sobre o passado de ambos.
A narrativa então volta no tempo e começa a construir a trajetória que levou ao incêndio. A narrativa recorre ao flashback com eficiência, evita excessos e mantém o ritmo firme. A partir daí, o espectador acompanha a espiral de decadência de um personagem que sequer recebe nome próprio nos diálogos — conhecido apenas como “o Devedor”.

O retrato cruel da ganância
Ao focar em um homem atolado em dívidas e disposto a tudo por dinheiro, “Carma” mergulha em um estudo de personagem frio e perturbador. O Devedor, vivido com intensidade por Lee Hee-joon, está afundado em obrigações financeiras com amigos, o senhorio e um agiota implacável, interpretado por Jo Jin-woong. A pressão leva o protagonista a escolhas cada vez mais questionáveis, incluindo um plano sórdido de assassinato.
A trama evolui com cenas desconfortáveis e diálogos carregados de tensão. Uma delas mostra outro devedor sendo “operado” para doação forçada de órgãos — um aviso claro de que a dívida não é apenas financeira, mas de vida ou morte. Esse momento estabelece o tom sombrio da série e serve como catalisador para o plano macabro que se segue.
A morte como solução — e a falsa tranquilidade
O ponto de virada ocorre quando o Devedor, ao visitar o pai após um acidente leve, encontra uma apólice de seguro de vida. Frio, ele vê ali a chance de quitar suas dívidas e parte para a ação. O local ideal para o “acidente” é uma rua sem câmeras, próxima à igreja frequentada pelo pai. Para executar o plano, o protagonista recruta um antigo colega de trabalho, Jang Gil-ryong, vivido por Kim Sung-kyun, que também enfrenta dificuldades financeiras.
Os dois homens selam o pacto sem hesitar, deixando claro até onde vão por dinheiro. A cena do atropelamento, filmada com crueza, expõe o abismo moral entre eles. No dia seguinte, o Devedor simula comoção ao saber da morte do pai — mas seu luto soa ensaiado.

As peças não se encaixam — e o jogo muda de direção
No entanto, como sugere o título da série, o que vai, volta. O que deveria ser um plano perfeito começa a ruir quando a polícia revela que o corpo foi encontrado enterrado em uma floresta e que há uma testemunha: a amiga da igreja do pai. O falso luto dá lugar ao pânico. Gil-ryong pode ter alterado o plano por conta própria, e o Devedor percebe que a situação fugiu do controle.
A reviravolta adiciona um novo nível de tensão à narrativa, sinalizando que o jogo de interesses está longe de acabar. A presença de personagens secundários enigmáticos, como a médica do hospital e o policial que conduz a investigação, aumenta a expectativa para os próximos episódios.
Carma desafia a empatia e testa os limites morais
“Carma” não oferece heróis. Pelo contrário, seus personagens são falhos, oportunistas e muitas vezes desprezíveis. Mas é justamente isso que torna a série tão atraente. Ao explorar até onde alguém é capaz de ir por dinheiro, o dorama coreano apresenta uma narrativa crua sobre consequências e escolhas.
Para quem gosta de thrillers psicológicos e histórias que investigam o lado mais sombrio do ser humano, “Carma” é um prato cheio. A produção entrega uma estreia impactante, com ritmo envolvente, atuações afiadas e uma estética que reforça o clima opressivo da trama. É o tipo de k-drama que prende o espectador não pela afeição aos personagens, mas pela curiosidade de ver até onde a espiral de destruição irá levá-los.
Foto Destaque: cena do k-drama “Carma. Divulgação/Netflix