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[CRÍTICA] “Força Bruta: Punição” escancara o submundo das apostas ilegais
A franquia Força Bruta retorna aos cinemas com um quarto capítulo. Mais do que manter o ritmo acelerado e os confrontos brutais que a consagraram, mergulha em um dos temas mais espinhosos da atualidade: o universo das apostas ilegais online e suas ramificações no crime internacional. Força Bruta: Punição não é apenas mais um filme de ação sul-coreano. Ele é um alerta, um reflexo de um problema global que também tem ganhado espaço no Brasil: a relação perigosa entre o entretenimento digital e o submundo do crime.
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Uma estreia brutal para o novo diretor
A direção de Heo Myeong-haeng, em sua estreia no comando da franquia, mostra a maturidade de quem já orquestrou inúmeras cenas de luta no cinema coreano. Assim, ele transforma sua experiência como coordenador de dublês em uma linguagem visual crua, intensa e visceral. E o resultado é uma sucessão de embates físicos que dispensam pirotecnias para atingir em cheio o estômago do espectador. Com destaque para o aguardado confronto entre Ma Seok-do e o vilão Baek Chang-gi, um dos mais realistas e brutais da saga.

A trama que escancara o crime digital
O enredo, apesar de seguir a fórmula já conhecida da franquia — um crime hediondo que desencadeia uma investigação obstinada —, se destaca ao expandir sua geografia. Agora, a ação se divide entre Coreia do Sul e Filipinas, reforçando o caráter transnacional do crime abordado. Assim, a escolha de situar parte da narrativa em um quartel filipino utilizado para escravizar adolescentes em esquemas de programação de jogos de azar revela uma coragem rara no cinema comercial. Ela busca falar abertamente sobre tráfico humano, lavagem de dinheiro e uso de tecnologias como fachada para ações criminosas.

Ma Dong-seok, mais uma vez, entrega uma performance carismática e brutal na pele do detetive Ma Seok-do. Sua atuação é o centro de gravidade do filme. Contudo, o personagem não é apenas um herói musculoso; ele é um justiceiro movido por uma promessa — e pelo peso emocional de uma mãe em luto, que recorre ao suicídio após a perda do filho. Além disso, a construção desse elo emocional torna a vingança mais do que uma missão policial: ela é uma redenção, um grito contra a impunidade.
A operação, liderada por Ma Seok-do, precisa, de início, conseguir provas contra Jang Dong-cheol — o cérebro por trás do jogo de azar, interpretado por Dong-Hwi Lee. Dong-cheol é considerado um gênio hacker e atua como o elo entre os esquemas cibernéticos e as ações do submundo. Conforme a investigação se intensifica e o confronto entre Ma Seok-do e Baek Chang-gi se aproxima, o clima de tensão cresce exponencialmente.

Um vilão à altura da franquia e a violência como instrumento narrativo
Do outro lado da moeda, temos um vilão à altura: Baek Chang-gi, interpretado com intensidade por Kim Mu-yeol. Ex-mercenário, brutal, imprevisível e tomado por uma raiva silenciosa, Baek é o tipo de antagonista que impõe respeito. Assim, seu arco de personagem, que evolui de marionete a mente estratégica do esquema criminoso, revela um nível de sofisticação raro para vilões de ação.

Outro ponto alto da narrativa é o uso simbólico das armas brancas. Assim, enquanto em muitos filmes os confrontos armados perdem o impacto pela banalização do tiroteio, Força Bruta: Punição aposta na faca, no soco e na dor corporal como forma de elevar o realismo. Isso aproxima a violência do público, tornando cada embate mais angustiante e, paradoxalmente, mais envolvente.
Mas o maior mérito do longa talvez seja sua crítica social. Ao escancarar o funcionamento dos jogos de azar ilegais — desde os garotos escravizados nos bastidores até os aplicativos de entrega usados para traficar drogas — o filme rompe a barreira do entretenimento e se posiciona. Em tempos de crescente normalização das apostas online e de influenciadores que romantizam esse universo, Força Bruta: Punição mostra que, por trás de cada clique, pode haver uma rede inteira de exploração humana e crime organizado.

Um blockbuster com algo a dizer
É nesse ponto que o filme dialoga diretamente com o público brasileiro. A explosão dos cassinos virtuais e das “bets” no país faz do enredo algo mais próximo do que gostaríamos de admitir. Assim, o longa vai além do seu papel como blockbuster: ele se torna denúncia, documento e resistência.
Força Bruta: Punição chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 10 de abril, com distribuição da SATO COMPANY. Selecionado para a mostra Special Gala do Festival de Berlim 2024 e vendido para 164 países, o longa consolida a franquia como um dos grandes expoentes do cinema de ação global — agora com um pé firme na crítica social. E mais do que isso, mostra que ainda é possível unir entretenimento de qualidade com crítica social afiada — e, claro, muitas cenas de porradaria para ninguém botar defeito.
Foto Destaque: Ma Dong-seok em “Força Bruta: Punição”. Divulgação/Sato Company