
Ex-primeira-dama Kim Keon Hee enfrenta julgamento inédito na Coreia
Em um episódio que inaugura um marco na política sul-coreana, Kim Keon Hee, esposa do ex-presidente Yoon Suk Yeol, tornou-se a primeira ex-primeira-dama da Coreia a enfrentar julgamento criminal. Acusada de corrupção, manipulação de ações, recebimento de bens de luxo e violação de leis eleitorais, Kim compareceu ao Tribunal Distrital Central de Seul na última quarta-feira (24) para a audiência inaugural, pouco mais de seis semanas após sua prisão.
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Vestindo um terno azul-marinho em vez do uniforme carcerário, Kim Keon Hee exibiu um distintivo prisional com o número 4398. Ao ser questionada pelo juiz, declarou estar “desempregada” e recusou a possibilidade de julgamento por júri. Sua breve aparição, registrada por repórteres por apenas um minuto, reforçou o simbolismo do processo que pode alterar a forma como a sociedade coreana enxerga o alcance da lei sobre figuras políticas de prestígio.

Acusações de manipulação e recebimento de presentes de luxo por Kim Keon Hee
Segundo os procuradores, Kim Keon Hee é acusada de ter participado da manipulação de ações da empresa Deutsch Motors entre 2009 e 2012, operação que teria gerado lucros ilícitos de cerca de 810 milhões de wons. Além disso, a promotoria sustenta que, antes da eleição presidencial de 2022, ela e Yoon teriam se beneficiado de serviços de pesquisa de opinião estimados em 270 milhões de wons, oferecidos por um corretor político em desacordo com a legislação de financiamento de campanha.
Outro ponto central envolve o recebimento de itens de luxo, como bolsas Chanel e um colar de diamantes avaliados em cerca de 80 milhões de wons, supostamente oferecidos por ex-membros da Igreja da Unificação em troca de favores políticos após a vitória eleitoral de Yoon. Ao todo, os ganhos ilegais atribuídos a Kim chegam a 1,03 bilhão de wons (cerca de 3 milhões e 900 mil reais), já sob bloqueio judicial.
Implicações políticas e institucionais
A audiência inicial, de 40 minutos, limitou-se à leitura formal das acusações e à definição dos próximos passos do processo. Espera-se que as sessões seguintes tragam depoimentos de testemunhas e novas provas. O julgamento, no entanto, ocorre em um cenário ainda mais delicado: o ex-presidente Yoon Suk Yeol também responde na Justiça por insurreição, após declarar lei marcial em dezembro de 2024, medida considerada inconstitucional, o que pode resultar em prisão perpétua ou até mesmo pena de morte.
A investigação contra Kim Keon Hee é conduzida por uma equipe de advogados especiais criada em julho, cujo mandato foi estendido por mais 30 dias para aprofundar diligências e colher novos depoimentos.
Se condenada, Kim poderá enfrentar penas que variam de multas pesadas a até cinco anos de prisão, segundo a legislação vigente. O desfecho do caso, além de ter peso jurídico, deve impactar diretamente a imagem política de Yoon e reforçar debates sobre a relação entre poder, corrupção e responsabilidade pública no país.
A defesa, por sua vez, nega as acusações e afirma que a promotoria não apresentou provas concretas que sustentem as denúncias. O julgamento deve seguir pelos próximos meses.
Foto destaque: Ex-primeira-dama Kim Keon Hee entra em um tribunal no Tribunal Distrital Central de Seul. Divulgação/Yonhap