
Novo relatório sobre royalties no K-pop explica saída de Rosé da KOMCA
Em outubro de 2024, Rosé, do BLACKPINK, solicitou sua exclusão da Associação de Direitos Autorais Musicais da Coreia (KOMCA), órgão que gerencia os direitos autorais de compositores e intérpretes no país. A saída da artista trouxe à tona um debate antigo: a distribuição desigual dos royalties gerados pelo streaming musical na Coreia do Sul.
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O caso ganhou destaque após a publicação de um relatório da própria KOMCA, que expôs a desvantagem enfrentada por compositores coreanos diante de seus pares em outros mercados. De acordo com o estudo divulgado em 22 de maio, autores sul-coreanos recebem, em média, 10,5% da receita gerada por plataformas de streaming como Melon e Genie. Nos Estados Unidos, essa fatia é de 12,3%. No Reino Unido, chega a 16%, enquanto na Alemanha alcança 15%. A diferença revela um desequilíbrio estrutural que compromete a renda dos criadores, mesmo com o crescimento global do K-pop.

Participação das plataformas é alta e prejudica os autores
O relatório também apontou que as plataformas de streaming coreanas retêm uma parcela da receita superior à de países desenvolvidos. No caso da Melon, maior serviço do país, a retenção é de 35%. Nos Estados Unidos, essa média não passa de 30%. O número reflete um cenário no qual os intermediários lucram mais do que os próprios artistas.
A KOMCA reconheceu o problema e relembrou que, em 2008, as plataformas ficavam com até 57,5% da receita total, deixando apenas 5% para os detentores dos direitos autorais. Apesar de avanços desde então, a estrutura ainda favorece os distribuidores. Segundo a associação, qualquer reforma depende de negociações entre empresas, artistas e do aval do Ministério da Cultura, Esportes e Turismo, o que torna o processo lento e complexo.
Sistema fragmentado cria cobranças em duplicidade
Um dos principais entraves é a existência de múltiplas entidades que participam da arrecadação e repasse dos direitos autorais. Além da KOMCA, há outras organizações, como a Associação de Intérpretes Musicais da Coreia e a Associação de Produtores de Entretenimento da Coreia. Cada uma cobra sua própria taxa administrativa.
Com isso, ao receber valores por músicas executadas no exterior, o artista paga uma comissão à editora internacional e, ao repassar esses mesmos valores para o mercado coreano, é taxado novamente. Para figuras como Rosé, que possuem grande presença global, a permanência na KOMCA se torna financeiramente desvantajosa.
Fontes da indústria explicam que, em mercados como o americano, a cobrança é feita por uma única editora, sem intermediários. Isso reduz os descontos aplicados antes de o valor chegar ao artista. Na Coreia, no entanto, o caminho é mais longo e oneroso.

Conflitos de interesse impedem mudanças estruturais
De acordo com um produtor com mais de 20 anos de experiência no mercado musical coreano, que preferiu não se identificar, há uma concentração de poder nas mãos dos distribuidores. Agências de entretenimento, mesmo as maiores, dependem dessas empresas para garantir que seus artistas tenham destaque nas plataformas. Isso impede a negociação direta e limita as possibilidades de contestação.
Representantes de gravadoras independentes também compartilham a crítica. Um deles explicou que, ao questionar os valores pagos, as plataformas tendem a ignorar a empresa. O receio de represálias torna a discussão sobre uma divisão mais justa ainda mais delicada. No fim, o artista acaba refém de um sistema que prioriza a intermediação em vez da criação.
K-pop cresce no mundo mas artistas ainda recebem pouco
O K-pop é hoje um dos principais produtos culturais da Coreia do Sul. Grupos arrastam multidões, vendem milhões de discos e acumulam bilhões de visualizações em plataformas como YouTube e Spotify. Ainda assim, a base desse sucesso, que são os compositores e intérpretes, continua sendo mal remunerada.
Especialistas afirmam que a falta de uma reforma urgente na distribuição de royalties tornará o modelo atual insustentável. A dependência de intermediários, as taxas múltiplas e a concentração de renda em plataformas criam um ambiente desfavorável à inovação e à sobrevivência de artistas independentes.
Foto Destaque: logo da KOMCA; Rosé do BLACKPINK. Divulgação/KOMCA/W Magazine China