
“O Verão em que Hikaru Morreu”: mais perguntas do que respostas
No quinto episódio, O Verão em que Hikaru Morreu deixa ainda mais evidente sua habilidade em trabalhar o medo como algo difuso, sem forma definida — e, principalmente, sem explicação imediata. A trama caminha para o seu ponto médio sem oferecer certezas, mas aprofunda o mistério que cerca a presença do novo Hikaru e a realidade da vila.
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O destaque do episódio é o surgimento do fantasma da peruca no banheiro da casa de Yoshiki — uma entidade bizarra, perturbadora, que persegue silenciosamente a família, mas ignora completamente Hikaru. Esse comportamento seletivo gera uma tensão narrativa instigante: por que atacar a família de Yoshiki e não o suposto impostor? Existe uma conexão entre os dois? A presença maligna parece se manifestar apenas quando Yoshiki está em maior proximidade com o novo Hikaru — e isso não parece ser coincidência.
Uma relação que se reconfigura em “O Verão em que Hikaru Morreu”
A evolução do relacionamento entre Yoshiki e o novo Hikaru é um dos aspectos mais belos e angustiantes do episódio. Há uma dualidade clara: Yoshiki sabe que aquele ao seu lado não é o verdadeiro amigo de infância, mas, ao mesmo tempo, começa a enxergar traços familiares na criatura que assumiu esse corpo. A convivência — em especial nos momentos de intimidade e solidão — revela uma crescente aceitação silenciosa.
Mesmo com os receios e as dúvidas, algo em Yoshiki começa a se curvar à ideia de que o antigo Hikaru talvez jamais volte, e que esse “novo ser” precisa ser compreendido, e talvez, acolhido. É um processo emocional delicado, construído de forma lenta, realista, e cheia de conflitos internos não verbalizados. O anime aponta, com sensibilidade, que aceitar a perda é um processo muito mais caótico do que simplesmente seguir em frente.
Tanaka e o templo de sangue: um novo eixo de tensão
Outro ponto que amplia o suspense é a cena em que Tanaka ativa uma entidade ao oferecer seu próprio sangue em um mini-templo. A figura de Tanaka, que até então se mantinha como um agente externo misterioso, agora assume um papel mais ativo e dúbio. Ele percorre vilarejos, “coletando” entidades, e parece ter uma motivação pessoal em destruir ou controlar forças sobrenaturais como o Hikaru.

Esse movimento levanta novas hipóteses sobre a origem das entidades e seu alcance geográfico. A semelhança entre a entidade vista com Tanaka e o novo Hikaru não pode ser ignorada — estariam essas manifestações conectadas por algo maior, espalhadas por diferentes pontos do Japão? A narrativa sugere que a vila pode ser o epicentro de uma força muito mais ampla, e que Tanaka representa tanto uma ameaça quanto uma possível salvação — dependendo do ponto de vista.
O terror emocional e a impotência diante do incontrolável
Este episódio reforça o que a série vem apontando desde o início: o verdadeiro horror não está apenas nas criaturas, mas na incapacidade dos personagens de controlar a própria realidade. A vila está sendo invadida por forças que ninguém compreende totalmente, e as soluções propostas até agora (como as do próprio Tanaka) parecem tão perigosas quanto os problemas que enfrentam.
Enquanto isso, Yoshiki segue sendo o centro emocional da série — dividido entre o luto, a atração, o medo e a aceitação. O anime não entrega respostas fáceis, mas também não camufla a dor dos personagens. O que se vê é um retrato cru da solidão e do desejo de manter alguma conexão com quem já se foi, mesmo que essa conexão assuma uma forma inumana.
O quinto episódio marca uma virada importante: menos explicações, mais inquietações. A beleza estética do anime se mantém intacta, mas agora acompanha um enredo mais denso e psicológico. O espectador é colocado diante de perguntas sem resposta — sobre o Hikaru, sobre as entidades, sobre a vila, sobre o próprio conceito de identidade. E, acima de tudo, sobre o que resta de humano quando tudo ao redor começa a ruir.
Foto destaque: Cena de “O Verão em que Hikaru Morreu”. (Reprodução/Netflix)