
Sanae Takaichi é eleita primeira-ministra do Japão e entra para a história como a primeira mulher no cargo
O Parlamento do Japão elegeu Sanae Takaichi como a nova primeira-ministra nesta terça-feira (21), marcando um momento histórico ao colocar uma mulher no cargo mais alto do governo japonês pela primeira vez. A conservadora de 64 anos assume o posto com a missão de restaurar a confiança política e impulsionar a economia do país, após meses de instabilidade.
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A vitória de Takaichi representa não apenas uma mudança simbólica na política japonesa, mas também o início de uma nova fase para o Partido Liberal Democrata (PLD), que enfrenta desafios internos e uma base de apoio cada vez mais fragmentada.

Uma nova era política no Japão com Sanae Takaichi
Sanae Takaichi foi escolhida por maioria simples nas duas casas do Parlamento, recebendo 237 votos na Câmara Baixa e 125 na Câmara Alta. Ex-ministra dos Assuntos Internos e da Segurança Econômica, ela sucede Shigeru Ishiba, que deixou o cargo após derrotas eleitorais que abalaram o PLD. Apesar de o Japão ser uma das maiores economias do mundo, o país atravessa um momento delicado, com desaceleração econômica, inflação em alta e desconfiança generalizada na classe política.
A chegada de Takaichi ao poder é histórica, mas também cercada de expectativas e dúvidas. Embora represente um marco para a presença feminina na política japonesa, a nova premiê não demonstra intenção de priorizar pautas de igualdade de gênero. Ela própria já afirmou que pretende se tornar a “dama de ferro japonesa”, em referência à ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, sua grande inspiração.
Perfil conservador e herança política de Shinzo Abe
Discípula do falecido ex-premiê Shinzo Abe, assassinado em 2022, Sanae Takaichi segue uma linha ultraconservadora, com forte ênfase no fortalecimento militar e na revisão da constituição pacifista do Japão. Assim como seu mentor, defende políticas econômicas expansionistas e a manutenção de valores tradicionais na sociedade japonesa.
Sanae Takaichi é conhecida por se opor ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à possibilidade de casais utilizarem sobrenomes diferentes. Além disso, mantém firme defesa da sucessão imperial exclusivamente masculina, tema que divide a opinião pública. Para seus apoiadores, ela representa estabilidade e continuidade política. Já para seus críticos, simboliza o retrocesso em pautas sociais e de direitos civis.

Desafios econômicos e políticos imediatos
A nova líder assume o governo em meio à pressão por respostas rápidas à crise econômica. O Japão enfrenta inflação crescente e um cenário de estagnação que ameaça o poder de compra da população. Sanae Takaichi prometeu apresentar, até o fim do ano, um pacote de estímulos fiscais com foco em crescimento econômico e incentivo à inovação tecnológica.
Analistas, no entanto, apontam que a gestão política fragilizada pode limitar sua capacidade de implementar medidas ambiciosas. Segundo especialistas do Sumitomo Mitsui Banking Corporation, a estratégia de Sanae Takaichi deve buscar equilíbrio entre estímulo fiscal e estabilidade cambial, evitando desvalorizações bruscas do iene. Ainda assim, há incertezas sobre o alcance real de suas propostas diante da resistência de parte do parlamento e da opinião pública.
Relações internacionais e postura frente à China
Embora já tenha adotado um discurso firme contra o fortalecimento militar chinês, Sanae Takaichi demonstra uma postura mais cautelosa nas relações bilaterais recentes. Sua ausência no festival do santuário Yasukuni, local de culto a mortos de guerra e motivo de atrito diplomático, foi vista como um gesto de moderação.
Mesmo assim, a nova premiê mantém laços estreitos com Taiwan e já afirmou que fortalecer a cooperação em segurança com a ilha é “crucial” para a estabilidade da Ásia-Pacífico. Observadores políticos destacam que sua experiência internacional é limitada, o que levanta dúvidas sobre sua condução diplomática em um contexto global cada vez mais polarizado.

O papel das mulheres e o paradoxo da representatividade
Apesar de ser a primeira mulher a liderar o Japão, Takaichi evita abordar pautas de igualdade de gênero. Seu gabinete, anunciado após a posse, inclui apenas duas mulheres entre os 19 ministros, o que contrasta com seu discurso de inspiração “escandinava” para ampliar a presença feminina no governo.
Atualmente, o Japão ocupa a 118ª posição entre 148 países no ranking de igualdade de gênero do Fórum Econômico Mundial. Apenas 15% das cadeiras da Câmara Baixa são ocupadas por mulheres, o que reflete o longo caminho que o país ainda precisa percorrer para equilibrar a representatividade política.
Mesmo sem adotar uma agenda feminista, Takaichi defende investimentos em saúde feminina e programas de fertilidade, argumentando que o bem-estar das mulheres é essencial para a manutenção da força de trabalho japonesa. Essa postura, no entanto, é interpretada por parte da sociedade como uma forma de reforçar papéis tradicionais de gênero.
O futuro do governo de Sanae Takaichi
O mandato de Takaichi começa em um cenário de incertezas, marcado por instabilidade política e desafios econômicos. Sua habilidade em articular alianças e responder às demandas internas do Partido Liberal Democrata será determinante para o sucesso de seu governo.
Mais do que uma vitória pessoal, a eleição de Sanae Takaichi é um teste de resistência para a própria estrutura política japonesa. Ao mesmo tempo em que rompe uma barreira histórica ao se tornar a primeira mulher no cargo, ela representa a continuidade de uma visão conservadora profundamente enraizada. O equilíbrio entre tradição e renovação será o ponto-chave de seu mandato nos próximos anos.
Foto Destaque: Sanae Takaichi em seu gabinete. Divulgação/Yuichi Yamazaki/AFP