
Sanae Takaichi pode se tornar a primeira-ministra mulher no Japão
O Partido Liberal Democrata (LDP), de orientação conservadora, elegeu nesta sexta-feira (4) Sanae Takaichi como a nova primeira-ministra do Japão, abrindo caminho para que a ex-ministra de 64 anos se torne a primeira mulher a liderar o Japão na história do país.
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Conhecida por sua postura nacionalista e por ser uma das figuras mais conservadoras da política japonesa, Takaichi construiu uma carreira marcada por polêmicas, disciplina rígida e fidelidade ao legado do ex-premiê Shinzo Abe, de quem foi protegida política. Antes da vida pública, ela também foi apresentadora de TV e é conhecida por ser baterista amadora de heavy metal — um traço que contrasta com seu estilo político tradicionalista.

Desafios econômicos e políticos
Ao assumir a liderança, Takaichi herda um país em desaceleração econômica, com inflação persistente, salários estagnados e famílias sobrecarregadas pelo alto custo de vida. No cenário internacional, ela deverá manter um equilíbrio delicado nas relações com os Estados Unidos, especialmente diante da necessidade de renegociar acordos tarifários firmados durante o governo Trump.
Outro desafio será unificar um partido abalado por escândalos e divisões internas. O ex-primeiro-ministro Shigeru Ishiba renunciou no mês passado, após sucessivas derrotas eleitorais que reduziram o domínio do LDP no Parlamento.

De acordo com Jeff Kingston, diretor de Estudos Asiáticos da Universidade Temple, em Tóquio, a nova líder “não deve ter muito sucesso em curar as divisões internas do partido”. Segundo o pesquisador, Takaichi faz parte da ala linha-dura que acredita que o partido perdeu força “por se afastar de suas raízes de direita”.
Postura conservadora e comparações com Thatcher
Sanae Takaichi se descreve como a “Margaret Thatcher do Japão” e admira a ex-primeira-ministra britânica por sua disciplina fiscal e firmeza política. No entanto, analistas apontam que sua postura não representa avanço nas pautas sociais. A nova líder é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e se opõe a mudanças legais que permitam que mulheres mantenham seus sobrenomes de solteira após o casamento, alegando defesa das tradições japonesas.

Ela também é visitante regular do Santuário Yasukuni, local onde são homenageados mortos de guerra, incluindo criminosos de guerra condenados — um gesto que costuma gerar tensões diplomáticas na Ásia.
A caminho do poder
Com a vitória interna, Sanae Takaichi deve ser confirmada pelo Parlamento nas próximas semanas. No entanto, o processo não será automático, já que o LDP perdeu a maioria nas duas casas legislativas. Ainda assim, sua eleição marca um momento histórico: pela primeira vez, uma mulher pode ocupar o cargo mais alto da política japonesa.
“Ela pode reconquistar os eleitores conservadores, mas corre o risco de perder apelo entre o público mais moderado”, avalia Kingston.
Caso se consolide como primeira-ministra, Takaichi promete reviver a política econômica “Abenomics”, baseada em altos gastos públicos e juros baixos, além de buscar revisar a constituição pacifista do país.
Foto destaque: Sanae Takaichi (FRANCK ROBICHON/AFP – Getty Images)