
Estúdios de anime e mangá vêm enfrentando dificuldades em se manter no Japão
A indústria de animes e mangás obteve crescimento na arrecadação em 2024, porém, mesmo com a crescente, é esperado que, pelo terceiro ano consecutivo, os estúdios responsáveis pelas produções continuem enfrentando problemas como falência e encerramento de atividades. Fatores como baixos repasses aos estúdios e alta demanda estão entre os principais motivos.
Leia mais: REVIEW | Jujutsu Kaisen: Execução combina resumo dinâmico com início da nova temporada
Leia mais: Jujutsu Kaisen – Execução: Pré-venda tem início no Brasil
De acordo com dados do Instituto Japonês de Publicação e Divulgação Científica, a receita do mercado de mangás no Japão faturou US$ 4,67 bilhões (mais de R$ 25 bilhões) em 2024, que representa um aumento de 1.5% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, de acordo com dados da AJA, Associação Japonesa de Animações, a receita gerada pela indústria do anime faturou cerca de US$ 25 bilhões (ultrapassando R$ 134 bilhões), representando um recorde do gênero e um aumento de quase 15%.

Número mascara dura realidade do mercado
Apesar das adaptações animadas de mangás ao redor do mundo terem aumentado sua popularidade nos últimos anos, a realidade da indústria está bem mais delicada do que aparenta. Em uma nota do Teikoku Databank, empresa que realiza levantamentos sobre as corporações, foi evidenciado que em 2025, oito estúdios de animações foram fechados, exatamente o dobro de 2024.
Dos oito estúdios, dois decretaram falência e seis encerraram suas atividades. Os motivos podem se justificar em duas vertentes, a dificuldade de acompanhar a demanda do público e a compensação financeira insuficiente para manter os projetos. Se a tendência seguir, até o final de 2025, 16 estúdios devem cessar as produções, número se igualaria ao recorde negativo de 2018. Aproximadamente metade das produtoras de anime que saíram do mercado nos últimos cinco anos eram estúdios principais ou de grande faturamento, como Studio 5, Cloud Hearts e Ekachi Epilka.
Maioria dos estúdios de anime não obtém lucro com suas produções
A raiz do problema está na estrutura financeira em que as produções estão inseridas. Antes de algum anime ser lançado, é formada uma comissão de financiadores por trás do projeto, a qual financia, detém a imagem e controla o repasse dos lucros. Os estúdios contratados para realizar as produções dificilmente estão presentes nessas comissões e recebem apenas uma taxa única pela produção, independente do sucesso do anime.
De acordo com relatos das produtoras, a taxa oferecida pelo serviço mal consegue cobrir os custos da produção. Em 2023, a indústria faturou mais de US$ 22 bilhões (R$ 188,437 bilhões), porém as empresas receberam apenas 13% do lucro do mercado. Isso afeta principalmente as produtoras menores e os considerados freelancer, que já oferecem um custo menor e não possuem um vínculo contratual. De acordo com levantamento da AJA, a maioria dos 811 estúdios de animes no Japão são de pequeno porte, com recursos limitados e recentemente estabelecidos.
China surge como potencial ameaça
Em meio à crise que os animes e mangás estão enfrentando em território japonês, a China está surgindo como nova potência no ramo dos animes, com o custo de produção chegando a um terço do que uma animação japonesa gastaria. Além disso, as empresas chinesas não oferecem repasses insuficientes e estão focadas em criar uma identidade própria. A ascensão chinesa serve de alerta ao Japão para repensar a forma em que gerenciam a própria indústria do entretenimento.
Foto destaque: A Viagem de Chihiro. Divulgação/Studio Ghibli