
REVIEW – Gostinho de Amor: Episódios 5 e 6
Os episódios 5 e 6 de Gostinho de Amor representam uma guinada emocional importante na série. Até aqui, o foco estava na construção afetiva entre Yeon-joo e Beom-woo, intercalando pequenos avanços com situações leves e cômicas. Agora, surgem perguntas mais difíceis. O que fazer quando o passado bate à porta com a força de quem ainda não foi embora? Como se manter firme diante da culpa, do afeto antigo e das chances perdidas?
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Esses capítulos mostram que o roteiro não tem medo de desorganizar o que parecia estabelecido. Beom-woo, antes figura quase cômica, revela ciúme, vulnerabilidade e insegurança. Yeon-joo, por sua vez, enfrenta a própria história ao reencontrar Min Jeon, ex-namorado e colega de trabalho nos tempos de Le Murir, o restaurante onde tudo desmoronou.

O amor que atrapalha e a lembrança que incomoda
A cena do beijo entre Yeon-joo e Beom-woo poderia ser o ponto alto do romance, mas a série faz questão de interrompê-la com humor físico e constrangimento. É uma escolha acertada. Ali já se antecipa o que vem pela frente: nada será simples entre eles. Quando Yeon-joo diz que o beijo foi um erro, Beom-woo reage como quem tenta esconder o próprio desapontamento. Insiste num encontro, mas respeita quando ela hesita.
O episódio ganha força quando Min Jeon entra em cena. Diferente de Beom-woo, ele é calado, estável, quase frio. Mas é justamente essa compostura que ativa em Yeon-joo memórias mal resolvidas. A série não precisa explicar demais. Bastam os silêncios entre os dois, os olhares desviados e um flashback doloroso para o espectador entender que ali houve uma entrega que não foi retribuída.

Cozinhar também é se posicionar
O jantar promovido no restaurante para unir duas famílias com gostos opostos é uma das sequências mais bonitas até aqui. É visualmente delicada, mas também funciona como metáfora. A habilidade de Yeon-joo em combinar pratos de culturas diferentes não serve apenas para encantar os clientes. É também um reflexo da sua tentativa de reconciliar partes de si mesma que parecem incompatíveis.
Ela cozinha como quem tenta construir pontes. E, naquela noite, consegue. Os pais que não se entendem saem sorrindo. Mas, para ela, esse sucesso não basta para calar o desconforto de ver Min Jeon novamente tão próximo.
Beom-woo tenta retomar o encontro prometido, ainda acreditando que pode ocupar um espaço maior na vida dela. Mas Min aparece de novo, interrompendo o que ainda nem começou. É nítido o quanto o passado continua determinando o presente de Yeon-joo.

Em Sapporo, as feridas reaparecem
O sexto episódio leva a protagonista até o Japão. Não apenas fisicamente. A viagem é também simbólica: é o retorno ao lugar de onde ela saiu ferida e em silêncio. Reencontrar o antigo chef, agora debilitado, abala sua estrutura. Mas é ao rever a antiga cozinha, os pratos, os colegas e especialmente Min que as camadas da dor se sobrepõem.
A forma como Yeon-joo resiste à ideia de voltar a trabalhar com Min é reveladora. Não há raiva explícita, nem confronto direto. Mas há cansaço. Ela não quer mais ter que provar que é boa o suficiente, nem carregar sozinha os erros dos outros. Sua recusa em voltar não é um gesto de desprezo. É um ato de sobrevivência.
A direção capta bem esses momentos com planos lentos, quase melancólicos. Há beleza em cada detalhe, mas ela não embriaga. É uma beleza que cansa, que pesa. Porque cada quadro parece perguntar o tempo todo se vale mesmo a pena voltar.

Beom-woo em deslocamento: O afeto também se perde
Enquanto isso, Beom-woo decide ir atrás dela. Há algo de bonito nessa tentativa. Ele não sabe muito bem o que fazer, mas quer mostrar que está presente. O problema é que sua presença, dessa vez, soa invasiva. A série se arrisca ao mostrar um personagem masculino insistente. Mas, diferente de outras produções, aqui não se trata de um gesto romântico idealizado. A insistência de Beom-woo tem consequências.
No jantar com Min e Yeon-joo, a tensão entre os dois homens toma conta da cena. A troca de farpas é menos sobre quem ela vai escolher e mais sobre o quanto cada um representa lados diferentes da vida dela. Min fala com o passado. Beom-woo fala com o agora.
Ainda assim, Beom-woo não é ingênuo. Quando descobre que Min pode ser seu rival não apenas no amor, mas também na disputa por receitas e espaço profissional, sua insegurança se torna medo. E isso amplia a complexidade do personagem. Ele não é só o pretendente bonzinho. Ele também tem medos, limites e falhas.

Decisões que não cabem numa mala
Os dois episódios revelam, aos poucos, que a verdadeira escolha de Yeon-joo não é entre dois homens. É entre duas versões de si mesma. Uma que se submete em nome da estabilidade e outra que arrisca em busca de liberdade.
A carta que ela deixa aos colegas do restaurante em Jeonju, com instruções detalhadas sobre como cuidar da cozinha, é quase uma carta de despedida. Mas não definitiva. Ela sabe que precisa ir para entender se ainda pertence àquele outro lugar. Isso não significa que vá ficar.
O reencontro com Min não a convence. Mesmo quando ele diz que a ama, que quer recomeçar, há uma ausência de entusiasmo. Yeon-joo não se emociona. Apenas escuta. E, depois, desvia. Talvez porque entenda que o amor, por si só, não apaga o que foi ferido.

Final em suspensão, como uma receita que ainda está no fogo
Ao final do sexto episódio, nada se resolve. E isso é bom. A série não apressa suas conclusões. Os personagens continuam em trânsito. Yeon-joo não sabe o que fará. Beom-woo, apesar da viagem impulsiva, começa a entender que não se pode forçar o tempo do outro. E Min, ainda que mais contido, demonstra fragilidade ao expor seu desejo de reparar o passado.
A trama, que havia começado centrada na rotina de um restaurante e seus pequenos dramas, agora se amplia. Mas sem perder a intimidade. As relações continuam no centro. E, acima delas, a pergunta que move tudo: como encontrar um caminho possível quando o coração pede coisas diferentes da razão?Gostinho de Amor segue mostrando que há mais emoção numa panela borbulhando do que em declarações vazias. E que o amor, tal como a culinária, exige atenção, paciência e, acima de tudo, escuta. Não há receita certa. Só tentativa. E coragem para experimentar.
Foto Destaque: Foto Destaque: cena do k-drama “Gostinho de Amor”. Divulgação/Netflix
REVIEW – Gostinho de Amor: Episódios 5 e 6
Overall
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Desenvolvimento dos personagens
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Ambientação e estética
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Direção e ritmo
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Impacto emocional
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Originalidade da narrativa
User Review
( votes)Destaques dos Episódios 5 e 6
Os episódios aprofundam a tensão emocional entre Yeon-joo, Beom-woo e Min. Com direção sensível e ambientação cuidadosa, Gostinho de Amor aposta na maturidade dos sentimentos e em conflitos reais. A trama se desloca para o Japão, abrindo espaço para revelações importantes, mas perde ritmo em alguns momentos. Ainda assim, o impacto emocional se mantém, reforçando o valor da série como drama romântico sem fórmulas fáceis.