
De Seul para o Mundo: A Globalização do K-Pop
O K-Pop, ou música pop coreana, conquistou o mundo com sua mistura única de ritmos, coreografias impactantes e produções visuais impecáveis. Originado na Coreia do Sul, o gênero explodiu globalmente ao decorrer do século XXI, impulsionado pelo poder das redes sociais e pela crescente influência da cultura sul-coreana. O K-Pop é o carro-chefe da Hallyu — a chamada Onda Coreana — e se consolidou como um fenômeno cultural global.
De palcos icônicos como o Coachella e Lollapalooza, aos holofotes do Grammy, VMA e Billboard, além de eventos de grande alcance como a Copa do Mundo. O sucesso do K-Pop é fruto de uma estratégia bem planejada que colocou a Coreia do Sul no centro do entretenimento mundial. Desde então, o gênero conquistou o seu espaço de forma estratégica e gradual, para se consolidar da maneira que conhecemos hoje.

Contextos históricos da Coreia do Sul e o investimento cultural
Entre 1910 e o fim da Segunda Guerra Mundial, o país esteve sob domínio japonês. Nesse período, a população coreana sofreu com a repressão cultural, a proibição da língua nativa e diversas violações aos direitos humanos. A situação se agravou com a Guerra da Coreia (1950–1953), que resultou na separação do território entre Coreia do Norte e Coreia do Sul. Depois disso, o país enfrentou, ainda, um regime ditatorial que perdurou até a década de 1980. A transformação da imagem da Coreia do Sul começou após a crise financeira asiática de 1997.
Diante desse cenário, o país, portanto, recebeu um auxílio financeiro de US$ 58 bilhões (R$ 358 bilhões) do Fundo Monetário Internacional (FMI). Considerando isso, a missão de reerguer a nação ficou sob a responsabilidade do então presidente Kim Dae-Jung. Dessa forma, ficou conhecido como o “Presidente da Cultura”. Em decorrência disso, ele se destacou por destinar cerca de US$ 148,5 milhões (R$ 9 milhões) à promoção cultural. Isso reforçou ainda mais sua imagem como líder transformador.
Com a implementação da “Lei Básica Para a Promoção da Cultura”, o governo incentivou a produção e exportação de conteúdo cultural, especialmente os K-Dramas, música e cinema. Portanto, essa política cultural impulsionou a exportação da cultura sul-coreana para países como China e Japão, iniciando um movimento que se tornaria global.

Primeira geração do K-Pop: O marco inicial
Nesse cenário favorável, o marco inicial da chamada primeira geração do K-Pop foi em 1992, com a estreia do trio Seo Taiji & The Boys. Em uma mistura de hip-hop, new jack swing e elementos da música pop americana, o grupo inovou com apresentações coreografadas e visuais modernos. Assim, sendo fortemente influenciados por boybands como Backstreet Boys e NSYNC. Junto deles, nomes como H.O.T, Sechs Kies, S.E.S, Shinhwa, além de artistas solo como BoA e Rain, consolidaram o gênero entre o público jovem. Em razão desse período de efervescência cultural que se desenrolava, surgiram as três maiores agências do K-Pop — SM, YG e JYP Entertainment. Como resultado, essas empresas passaram a padronizar o treinamento de idols, e ainda estiveram contribuindo significativamente para a expansão do gênero no mercado internacional, especialmente no Japão.
“No início, eu não gostava do K-Pop, mas através dos k-dramas fui conhecendo melhor e se tornou algo natural. Nunca pensei que iria gostar tanto das músicas! (risos).” – Clarenice Dourado, 20 anos.
O impacto da segunda geração do K-Pop na indústria musical global
Com a chegada da internet no início dos anos 2000, o K-Pop encontrou o ambiente perfeito para sua expansão. Grupos da segunda geração, como BIGBANG, 2NE1, Girls’ Generation, SHINee, Super Junior, Wonder Girls, 2PM, 4Minute e TVXQ, lideraram essa transformação. Eles introduziram conceitos inovadores — como “girl crush”, “bad boy/girl”, “cute”, “sexy” e “escolar” — que redefiniram o estilo e a estética do gênero, impulsionando sua popularidade internacional.
No geral, essa fase também foi marcada por inovações visuais e de marketing. Como resultado, surgiram os lightsticks e se popularizaram cabelos e roupas coloridas, que, inclusive, consolidaram-se como tendências dentro e fora da Coreia do Sul. Ao mesmo tempo que as apresentações ao vivo e os vídeos de ensaio de dança também desempenharam papel fundamental, tornando-se elementos essenciais na cultura de fãs do gênero.

“Eu conheci o K-Pop em meados de 2011 através de um jogo de dança coreano chamado ‘Love Ritmo – Star’, e as músicas dos grupos 2NE1 e BIGBANG passaram a chamar a minha atenção.” – Karina Sobral, 24 anos.
O hit viral “Gangnam Style”
Foi em 2012 que o K-Pop alcançou seu boom global, impulsionado por PSY e o sucesso viral “Gangnam Style”. Com uma coreografia icônica de trote de cavalo, o hit se tornou o primeiro vídeo do YouTube a superar 1 bilhão de visualizações. Acumulando hoje, são mais de 5 bilhões. Em contraste ao objetivo inicial, em que PSY pretendia apenas satirizar o estilo de vida luxuoso do distrito de Gangnam, em Seul, ele não imaginava o sucesso global que “Gangnam Style” alcançaria.
Inegavelmente, o impacto foi tão expressivo que até Ban Ki-moon, então secretário-geral da ONU, elogiou a canção, classificando-a como uma ‘força para a paz mundial’. A música de PSY ajudou a solidificar a percepção de que o K-Pop poderia desempenhar um papel importante no soft power da Coreia do Sul. O governo começou a investir cada vez mais no gênero musical. Começou a utilizar como uma ferramenta estratégica para alcançar jovens ao redor do mundo e promover uma imagem positiva do país.
“Eu lembro como se fosse hoje. Estava por dentro de todos os lançamentos musicais, e assim que Gangnam Style lançou, virou uma febre no YouTube, rádio e televisão. Eu colocava a música para tocar e dançava junto.” – Victor Santos, 24 anos.
A xenofobia evidente para com os sul-coreanos
Por mais que animes, jogos e outras formas de entretenimento japonês já tivessem popularizado a cultura asiática em países ocidentais, foi em 2017, com a ascensão do K-Pop entre jovens e adolescentes, que a xenofobia contra sul-coreanos passou a se tornar evidente. Visto que, pessoas faziam comentários preconceituosos sobre a aparência dos idols e afirmações de que “todo asiático é igual”. Assim como sátiras sobre a língua coreana e questionamentos acerca da sexualidade, ilustraram um cenário de resistência cultural.
“Conheci pelas minhas amigas em 2017. No começo tinha preconceito por conta da cultura japonesa que pra mim, todo mundo ali era a mesma coisa. ‘Se vem dos japas, não presta’, eu falava assim. Mas depois que eu deixei o preconceito de lado e fui saber mais sobre o que o K-pop realmente era, comecei a gostar.” – Ingrid Clemente, 17 anos.
Um exemplo polêmico de xenofobia aconteceu no Brasil, durante a visita do grupo KARD em 2017 ao programa de auditório ‘Raul Gil’. Na ocasião, o grupo estava entusiasmado para promover o single “Oh Nana”, e em certo momento, o apresentador fez comentários depreciativos. Ele zombou da aparência dos integrantes, sugerindo que eles “deveriam esticar e abrir os olhos”, e imitou um sotaque asiático ao falar português. O caso ganhou repercussão internacional entre os principais meios de comunicação.
O incidente evidencia uma visão xenofóbica que vai além da música e atinge a cultura asiática como um todo. Em suma, o apoio dos fãs tem ajudado a combater estereótipos, tornando o K-Pop uma ferramenta eficaz contra o racismo e a xenofobia no mundo, procurando promover o respeito e conhecimento cultural asiático.
“DNA” e “Ddu-Du-Ddu-Du”: uma nova era no K-Pop
Após seis anos do fenômeno global “Gangnam Style”, o K-Pop atingiu um novo patamar de popularidade entre 2017 e 2018, com o sucesso estrondoso de BTS e BLACKPINK. O lançamento de “DNA” pelo BTS e “Ddu-Du-Ddu-Du” pelo BLACKPINK marcou um ponto de virada, solidificando o gênero musical coreano no cenário internacional. A canção do BTS foi a primeira do K-Pop a alcançar o Global Top 50 do Spotify. Além disso, se tornou o segundo videoclipe do gênero a ultrapassar 1 bilhão de visualizações no YouTube. Por outro lado, o BLACKPINK fez história com o lançamento de “Ddu-Du-Ddu-Du”, que não apenas se tornou o videoclipe mais visto nas primeiras 24 horas, como também marcou o grupo como o primeiro do K-Pop a atingir 1 bilhão de visualizações.
Em 2018, ambos os grupos juntos geraram impressionantes US$ 5 bilhões (aproximadamente R$ 30 bilhões) para a Coreia do Sul, o que ajudou o país a se posicionar como o sexto maior mercado fonográfico do mundo. Como líderes da terceira geração do K-Pop, ao longo de suas carreiras, BLACKPINK e BTS quebraram inúmeros recordes — tanto na indústria musical quanto no Guinness World Records — somando, ao todo, 33 conquistas.
“O BTS foi o 2° grupo que conheci. Acompanhei toda sua trajetória de carreira, e as dificuldades que tiveram para serem reconhecidos na indústria musical. Além do significado de cada música, é admirável o esforço de cada membro, e o respeito aos fãs.” – Nívea Martins, 21 anos.
O legado de BTS e BLACKPINK no K-Pop
O enorme impacto de BLACKPINK e BTS resultou em prêmios e honrarias internacionais. Por sua vez, as integrantes do BLACKPINK — Rosé, Jisoo, Lisa e Jennie — foram eleitas pela Forbes Korea como as maiores celebridades da Coreia do Sul. Elas foram ainda, reconhecidas como um ‘fenômeno global’ pelo ex-presidente Moon Jae-In, que, por conseguinte, destacou sua contribuição significativa para a expansão internacional do K-Pop. Por outro lado, o BTS consolidou um marco histórico ao se tornar o artista mais vendido da Coreia do Sul, superando 30 milhões de álbuns. Além disso, foram nomeados pela revista Time como ‘líderes da próxima geração’ e integraram a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Não só isso, mas também foram convidados pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para discursar na Casa Branca. Esses marcos não apenas transformaram o K-Pop, mas também estabeleceram ambos os grupos como líderes de uma revolução cultural e musical, ao mesmo tempo em que continuam a expandir a influência do gênero no mercado global de música, especialmente no mercado de língua inglesa.

A influência da língua inglesa no K-Pop e a ascensão do Konglish
A utilização da língua inglesa no K-Pop tem se tornado cada vez mais comum, especialmente em títulos de músicas, letras e nomes de grupos. Essa prática, portanto, reflete uma estratégia clara de expansão internacional, com o objetivo de tornar o gênero musical mais acessível e atrativo para o público. Além disso, essa fusão linguística entre o coreano e o inglês — conhecida como Konglish — tem ganhado cada vez mais destaque. Sobretudo, ela facilita a compreensão por parte dos ouvintes não coreanos e, consequentemente, promove uma conexão mais estreita entre fãs de diferentes nacionalidades.
Atualmente, nomes como Ryan Tedder, TEDDY, Max Thulin e Jon Bellion estão entre os principais compositores de grupos e solistas do K-Pop, uma vez que trazem elementos alinhados às tendências do mercado fonográfico ocidental. Ao mesmo tempo, a popularidade do Konglish entre o público global aumentou significativamente nas últimas décadas: enquanto apenas 7% das músicas de K-Pop apresentavam títulos em inglês em 1990, esse número saltou para 44% em 2010.
Combinação de idiomas nas canções
A combinação de coreano com inglês não apenas facilita o consumo internacional, como também fortalece, de forma estratégica, a presença do gênero nos principais rankings musicais. Essa tendência é impulsionada por colaborações internacionais, especialmente com grandes nomes da música ocidental, como Lady Gaga, Dua Lipa, Steve Aoki, Halsey, Bruno Mars, John Legend, Charlie Puth, Selena Gomez e Coldplay.
“Sempre tive curiosidade com mais línguas, e me chamou atenção como o K-Pop consegue misturar muito bem isso nas letras das músicas, mudando os mesmos clichês estadunidenses.” – Karla Adriele F. dos Santos, 17 anos.
As estratégias de marketing pela indústria musical sul-coreana
A indústria musical sul-coreana, por sua vez, se destaca por meio de estratégias de marketing altamente eficazes, aplicadas pelas empresas que gerenciam os artistas de K-Pop. Em um mercado cada vez mais competitivo, essas agências, portanto, utilizam de forma inteligente a influência das redes sociais, a constante inovação em formatos de conteúdo e o apoio financeiro do governo. Somente em 2020, o setor de entretenimento sul-coreano movimentou mais de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 61 bilhões).
Paralelamente, o governo da Coreia do Sul investiu US$ 1,42 bilhão (aproximadamente R$ 877 bilhões), com foco na exportação cultural e na consolidação do chamado soft power sul-coreano. O K-Pop demonstrou um crescimento exponencial nas plataformas digitais. Segundo o Spotify, em 2020 os ouvintes consumiram cerca de 134 bilhões de minutos de K-Pop, com músicas do gênero incluídas em mais de 93 milhões de playlists. Em razão disso, o consumo global de K-Pop aumentou impressionantes 1800% entre 2014 e 2020, se mostrando como um dos gêneros mais influentes da atualidade.

O planejamento estratégico para o engajamento
Entre as práticas mais conhecidas do K-Pop, destaca-se, sem dúvida, o chamado comeback — termo utilizado para descrever o retorno de um grupo ou artista solo com um novo lançamento, geralmente após um período de pausa. Esse retorno é divulgado por meio de teasers visuais, trechos musicais e prévias do videoclipe, gerando expectativa e engajamento nas redes sociais. O comeback, portanto, não é somente um lançamento musical, mas um evento completo que envolve conceito visual, storytelling e performance, com forte envolvimento dos fãs.
“A internet ajudou a propagar a cultura asiática, e a gama de conteúdos que estão sempre lançando como músicas, vídeos, bastidores, tudo é sempre gravado e documentado, o que leva essa conexão ainda maior com os fãs.” – Juliana Lins, 21 anos
As coreografias marcantes são parte central da divulgação. Em tempos de TikTok e reels, uma dança cativante tem potencial para viralizar globalmente. As agências, portanto, compreendem que os fãs não são apenas consumidores de conteúdo; ao contrário, eles se tornam parte ativa da estratégia de marketing digital. Dessa forma, assumem o papel de protagonistas na promoção e no engajamento das atividades do grupo.
A conexão entre idols e fãs pelas redes sociais
Redes sociais como Instagram, YouTube, X (Twitter) e plataformas exclusivas como WeVerse e Bubble se tornaram ferramentas essenciais para aproximar fãs e ídolos. Os artistas, assim, compartilham não apenas conteúdos promocionais, mas também momentos pessoais e bastidores, o que, consequentemente, cria uma conexão emocional mais forte com o público. Diferente da indústria musical ocidental, o K-Pop aposta fortemente na humanização dos artistas. Agências produzem conteúdos variados que mostram os idols fora dos palcos — seja em reality shows, vlogs, jogos ou bastidores de turnês. Programas como Run BTS, SKZ Code e Going Seventeen oferecem uma visão autêntica do dia a dia dos artistas. Além disso, promovem a interação indireta com os fãs, fortalecendo o vínculo entre o público e os idols.
“As músicas são uma forma principal de nos aproximarem de nossos artistas favoritos, muitas delas me ajudaram em momentos difíceis da minha vida. Era como ser abraçada sem necessariamente receber um abraço físico.” – Siliane Falcão, 26 anos.
A Cultura do Merchandise no K-Pop: Estratégia e Lucros
A cultura do merchandise é uma prática comum entre fãs, servindo como uma forma de conexão emocional com os ídolos. No K-Pop, essa cultura é ainda mais ativa e diversificada, com uma gama de produtos que inclui desde photocards e lightsticks até álbuns físicos colecionáveis, roupas, acessórios, pelúcias e itens de decoração. Esses produtos fortalecem o vínculo entre fãs e artistas, além de impulsionar significativamente a economia do setor.
Uma característica que diferencia os grupos de K-Pop de artistas de outros gêneros musicais é o lançamento de múltiplas versões de um mesmo álbum. As variações de embalagem e os photocards exclusivos incentivam os fãs a adquirir múltiplas cópias, transformando-se em uma experiência de colecionismo. Essa estratégia resultou em mais de 119 milhões de álbuns físicos vendidos na Coreia do Sul em 2023, número três vezes maior do que o registrado em 2020, segundo dados da Circle Chart.

O Fan-Marketing: Conexão através dos produtos
Segundo o Instituto Coreano de Cultura e Turismo (KCTI), a indústria do K-Pop gerou quase US$ 900 milhões (R$ 5 bilhões) em 2023. Pela primeira vez, as exportações de produtos culturais ultrapassaram 1 trilhão de won (R$ 520 bilhões). Entre 2018 e 2023, as exportações de álbuns físicos cresceram 35,2% ao ano, e os serviços de streaming internacionais aumentaram 22,3% anualmente.
O fan marketing no K-Pop vai além do consumo: cria comunidades, promove interação e proporciona aos fãs uma forma tangível de se aproximar dos seus ídolos — mesmo à distância. Em países da América Latina, onde os custos de importação são elevados, muitos fãs transformaram a paixão em negócio, criando lojas online de varejo especializadas em produtos oficiais de K-Pop com preços acessíveis e frete nacional ou gratuito. No Brasil, o mercado de e-commerce voltado ao gênero registrou um faturamento de R$ 3,2 milhões apenas entre janeiro e julho de 2024, segundo dados do setor. O número de itens vendidos por pequenas e médias empresas cresceu 38% em relação a 2023, totalizando mais de 27 mil produtos comercializados.
Recordes e marcos históricos nas turnês de K-Pop
As turnês internacionais desempenham um papel fundamental na consolidação do K-Pop como um crescente exponencial. Com apresentações nos principais estádios e arenas ao redor do mundo e ingressos vendidos em questão de minutos, a evidência da força do gênero fora do continente asiático é evidente. Mais do que simples shows, essas turnês promovem um contato direto entre os idols e seus fãs, fortalecendo laços emocionais, além de movimentar bilhões de dólares em escala global.
Um exemplo notável é o grupo BLACKPINK, cuja “Born Pink World Tour” (2022-2023) arrecadou mais de US$ 163,8 milhões (R$ 929 milhões), tornando-se a turnê mais lucrativa da história por um girlgroup, ultrapassando artistas como Spice Girls e Destiny’s Child. Com datas esgotadas em grandes locais como o Coachella (EUA) e BST Hyde Park (Reino Unido), o BLACKPINK elevou o seu nome a outro patamar de rentabilidade. Já o BTS quebrou recordes com sua turnê “Love Yourself: Speak Yourself”, arrecadando cerca de US$ 196,4 milhões (R$ 1,14 bilhões) com apenas 20 shows — uma média de quase US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) por apresentação. Essa turnê colocou o BTS entre os artistas mais lucrativos do mundo ao lado de nomes como Ed Sheeran, Taylor Swift e Beyoncé.

Atualmente, as turnês representam, sem dúvida, uma das principais fontes de receita da indústria fonográfica sul-coreana. Dado que, elas superam não apenas as vendas físicas de álbuns, mas, em certos casos, até mesmo os lucros gerados por plataformas digitais. De acordo com o Korea Creative Content Agency (KOCCA), esses shows internacionais são, portanto, parte essencial da exportação cultural do país e, consequentemente, integram a estratégia de soft power promovida ativamente pelo governo sul-coreano.
A Influência do K-Pop na Moda de Luxo: Idols como Força Global de Estilo
Atualmente, a influência do K-Pop ultrapassa o universo musical e, de maneira significativa, atinge também o mundo da moda de luxo, consolidando, assim, uma ponte poderosa entre a cultura pop e a indústria fashion. Além disso, conforme uma pesquisa realizada pela Vogue Business, em 2019, a Ásia foi responsável por 62% do consumo global de roupas de luxo, sendo que, nesse contexto, a Coreia do Sul liderou o investimento per capita no setor.
Observando esse alto poder de consumo e a fidelidade das fanbases, grandes marcas passaram a nomear idols como embaixadores globais. As grifes internacionais reconheceram o potencial de alcance dos idols e passaram a utilizá-los como influenciadores estratégicos, presentes em desfiles, campanhas publicitárias e ações nas redes sociais. Cada aparição de um artista, seja em videoclipes, eventos ou posts casuais, é meticulosamente planejada para maximizar engajamento digital e visibilidade.

Durante as Semanas de Moda em Paris, Milão, Londres e Nova York de 2024, a presença de artistas sul-coreanos gerou milhões de visualizações e interações. Visto que a Dior, por exemplo, conquistou US$ 46 milhões (R$ 284 milhões) em ganhos de mídia na temporada 2024/2025, graças à participação de Jisoo (BLACKPINK), uma de suas principais embaixadoras.
“Uma das mudanças que o K-Pop trouxe para mim além das músicas, foi a questão das vestimentas. Comecei a gostar mais do estilo asiático, com as roupas de maneira estilosa mas ao mesmo tempo simples, usando peças em combinações diferentes.” – Isabelle Silva, 19 anos.
Stray Kids no Met Gala, e os principais embaixadores globais
Um dos momentos mais marcantes da relação entre K-Pop e moda aconteceu com a parceria da Tommy Hilfiger com o Stray Kids, lançando a coleção de outono 2024. A campanha, inspirada na essência urbana de Nova York, destacou os oito membros do grupo e refletiu seu estilo moderno e autêntico. Como resultado desse sucesso, o Stray Kids tornou-se, portanto, o primeiro grupo de K-Pop a participar do Met Gala, evento beneficente anual, realizado em maio de 2024 no Metropolitan Museum of Art. A participação do grupo reforça a crescente importância do K-Pop nas maiores vitrines da moda mundial.

Diversas marcas de moda internacional têm apostado em idols de K-Pop como rostos de suas campanhas globais. Confira alguns dos idols que são embaixadores das principais marcas de luxo globais:
- Calvin Klein: Jungkook (BTS), Jennie (BLACKPINK), NewJeans (NJZ), Cha Eun-Woo (ASTRO), Mingyu (SEVENTEEN);
- Louis Vuitton: J-Hope (BTS), Felix (Stray Kids), LE SSERAFIM, Jackson Wang (GOT7), Lisa (BLACKPINK);
- Versace: Hyunjin (Stray Kids), Ningning (aespa);
- Gucci: IU, Kai (EXO), Jay Park, Jin (BTS), Hanni (NewJeans/NJZ);
- Dior: Jisoo (BLACKPINK), Tomorrow X Together, Jimin (BTS), Lee Jun-Ho (2PM);
- Channel: G-Dragon (BIGBANG), Jennie (BLACKPINK), Minji (NewJeans/NJZ).
O Impacto da Onda Coreana (Hallyu) na economia e cultura
A Hallyu consolidou a Coreia do Sul como um dos centros culturais mais influentes do mundo. Impulsionada principalmente pelo K-Pop e os dramas coreanos (K-Dramas), essa movimentação cultural transcendeu as barreiras do entretenimento e gerou um profundo impacto na economia, turismo, moda, gastronomia e ensino da língua coreana. Através do sucesso internacional de grupos como BTS, BLACKPINK e produções como “Round 6” e “Crash Landing on You” (Pousando no Amor), a Coreia do Sul se tornou um destino turístico e cultural altamente desejado por milhões ao redor do mundo.
O crescimento do interesse pela língua coreana acompanha diretamente o avanço do K-Pop e dos K-Dramas. No Brasil, o número de pessoas procurando por cursos de coreano aumentou 250% em 2022, em comparação ao ano anterior. O aplicativo Duolingo também registrou o coreano como a 7ª língua mais buscada mundialmente, com aumento expressivo em países como Brasil, Argentina, Alemanha e Índia.
O K-Pop é hoje uma das engrenagens mais importantes da economia sul-coreana, gerando empregos diretos e indiretos, além de fomentar setores como cosméticos, automobilismo, tecnologia, literatura, cinema e turismo. Conforme o site Fortune, o BTS gerou cerca de 41,8 trilhões de won (R$ 1,78 trilhão) ao Produto Interno Bruto (PIB) da Coreia do Sul entre 2014 e 2023 — evidenciando o poder econômico de um único grupo musical.
O turismo na Coreia do Sul
O turismo na Coreia do Sul se transformou em um fenômeno global, alimentado pelo crescente fascínio da cultura pop sul-coreana. Em 2023, o país recebeu mais de 11 milhões de visitantes internacionais, gerando uma receita de US$ 15,1 bilhões (R$ 930 bilhões). Só em 2024, o volume de buscas por passagens aéreas para Seul cresceu 59%, segundo dados de agências de viagens online. Conforme o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), a expectativa é que o setor de turismo da Coreia cresça, em média, 4,8% ao ano até 2032, consolidando o país como uma referência em turismo cultural e criativo na Ásia.
“Acredito que o conceito da popularidade da cultura coreana fazer tanto sucesso entre os jovens, têm influência com o K-Pop através de suas músicas, ritmos e coreografias, atraindo milhares de fãs por conta disso.” – Isadora Cunha, 16 anos.

O crescimento da Coreia do Sul como potência cultural é resultado de investimentos governamentais contínuos ao longo de mais de duas décadas. O apoio à indústria criativa não apenas promoveu a exportação da cultura sul-coreana, mas também ajudou a romper a hegemonia ocidental no entretenimento global, oferecendo maior representatividade asiática no cinema, na música, na moda e na mídia.
A 5ª geração do K-Pop: novos conceitos e diversidade
A indústria do K-Pop está oficialmente em sua quinta geração, marcada por inovações estéticas, sonoras e tecnológicas. Essa nova fase do gênero se beneficia do sucesso consolidado das gerações anteriores, especialmente da terceira e quarta, que abriram caminho para a internacionalização dos idols. O foco da quinta geração do K-Pop está no fortalecimento do alcance global por meio de plataformas de streaming e redes sociais, explorando uma maior fluência em inglês, visuais diferenciados e uma performance mais integrada — deixando para trás as posições tradicionais fixas como “main dancer” ou “main vocalist”.
Entre os nomes em destaque da nova geração estão ILLIT, Kiss Of Life, ZEROBASEONE, BABYMONSTER, RIIZE, BOYNEXTDOOR, TWS, P1Harmony e xikers. Esses grupos apostam em visuais e conceitos que resgatam a essência da segunda geração do K-Pop, como os estilos “cute”, “bad boy” e “sexy”, com destaque para os grupos femininos que abordam empoderamento, união feminina e identidade própria em suas músicas e apresentações.

A diversidade é uma tendência crescente no K-Pop, refletida na formação de grupos com integrantes de diferentes nacionalidades, gêneros e histórias. Um exemplo é o grupo Big Ocean, o primeiro grupo de K-Pop composto inteiramente por idols com deficiência auditiva parcial. Composto por Park Hyunjin, Kim Jiseok e Lee Chanyeon, o trio usa tecnologia assistiva, como relógios vibratórios e inteligência artificial, para se apresentar. Além da música, integram línguas de sinais coreana, americana e internacional, reforçando a representatividade e inclusão da comunidade surda na indústria musical.
O futuro do K-Pop: Novos rumos e expansão de fronteiras
Com maior liberdade criativa, muitos grupos da quinta geração estão explorando novos ritmos, conceitos e experiências imersivas. O uso de inteligência artificial, realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) tem se tornado cada vez mais comuns em lançamentos, videoclipes e interações com fãs, permitindo que o público vivencie experiências exclusivas e inovadoras no universo K-Pop, potencializando o storytelling visual dos artistas.
Além do aspecto musical, os idols têm desempenhado um papel ativo em causas sociais, ambientais e humanitárias. O K-Pop também se tornou um símbolo de resistência política, como visto nos protestos pelo impeachment do presidente Yoon Seok-Yeol em dezembro do ano passado, onde fãs utilizaram lightsticks, músicas e coreografias para expressar seus ideais. Além disso, diversos artistas sul-coreanos manifestaram o seu apoio de forma direta, ou indiretamente. A influência dos idols vai além dos palcos, impactando milhões de jovens em questões como bullying, saúde mental, inclusão e ativismo digital.

O futuro do K-Pop aponta para uma fase de maior expansão, consciência social e inovação artística. Os grupos da nova geração estão desafiando os padrões tradicionais do mercado musical, posicionando-se contra a xenofobia, o bullying e as pressões da indústria. Ao mesmo tempo, continuam a conquistar o mundo com sua autenticidade e conexão com os fãs. À medida que os grupos se tornam cada vez mais conectados ao público internacional, a expectativa é de que o K-Pop mantenha sua expansão e influência, se reinventando continuamente e abrindo espaço para novas vozes, sons e causas.
Foto Destaque: Seo Taiji and Boys, 2NE1, BTS e BLACKPINK. Divulgação: Seo Taiji and Boys via Bando Entertainment / 2NE1 via YG Entertainment / BTS via BigHit Entertainment / BLACKPINK via YG Entertainment