
Yoon Suk Yeol permanece calado e cochila durante julgamento na Coreia do Sul
A presença do ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol na segunda audiência criminal que investiga sua suposta tentativa de golpe militar atraiu atenção intensa da imprensa e das autoridades judiciais. O julgamento foi realizado nesta segunda-feira, 21, no Tribunal Distrital Central de Seul, no bairro de Seocho, com esquema de segurança reforçado. Yoon chegou ao local às 9h57 (KST) e entrou pela sala reservada a réus detidos, evitando a circulação comum para preservar sua integridade.
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Assim que ele cruzou a porta da sala de audiência número 417, uma sequência de flashes e cliques de câmeras quebrou o silêncio no tribunal. O juiz responsável autorizou a entrada da imprensa, que registrou as imagens do réu sentado no banco dos acusados durante quatro minutos, antes do início formal da sessão.
Vestindo o mesmo terno azul-marinho e a gravata vermelha que usou no julgamento de impeachment, Yoon manteve-se em silêncio. Além disso, ele ficou sem expressar qualquer reação diante das câmeras e dos presentes no recinto. Sentado ao lado de seus advogados, limitou-se a trocar cumprimentos rápidos com a equipe de defesa e a realizar uma breve reverência ao grupo de juízes.
Durante o registro da imprensa, ele manteve o olhar perdido e chegou a fechar os olhos algumas vezes, aparentando desinteresse. Essa postura contrastou com a adotada na primeira audiência, quando falou por mais de 90 minutos em sua própria defesa. Desta vez, porém, permaneceu calado até os momentos finais do julgamento, que se estendeu até o início da noite.

Testemunhos militares expõem ordens para intervir no Parlamento
Ao longo da audiência, dois militares que atuaram diretamente nas ações da lei marcial prestaram depoimento e revelaram ordens recebidas para agir contra o Poder Legislativo. O general Lee Jin-woo, chefe do Comando de Defesa, ordenou ao general de brigada Cho Sung-hyun, comandante de um dos regimentos da Defesa da Capital, que invadisse o prédio da Assembleia Nacional e controlasse o acesso de parlamentares.
De início, Cho disse que respondeu afirmativamente, mas reconsiderou a ordem logo após desligar o telefone. Ele relatou ter feito uma ligação de retorno ao superior para alertar que a missão extrapolava a jurisdição da unidade e que precisaria ser discutida com o Comando de Operações Especiais. O depoimento mais impactante, no entanto, foi o do tenente-coronel Kim Hyung-ki, comandante de um batalhão das Forças Especiais.
O tenente-coronel Kim Hyung-ki afirmou que o coronel Lee Sang-hyun, comandante da 1ª Brigada Aerotransportada, transmitiu uma ordem que, segundo ele, partia diretamente do então presidente Yoon Suk Yeol. Os militares deveriam retirar os parlamentares à força da Assembleia Nacional, utilizando todos os meios necessários, inclusive arrombando portas e janelas, se preciso.
Militar se recusa a cumprir ordem e prioriza lealdade à Constituição
Kim interpretou que a determinação vinha do chefe do Executivo, mas escolheu não repassá-la às tropas. Ao justificar a decisão, explicou que os soldados já estavam em estado de tensão e, caso ele emitisse a ordem, eles a cumpririam de imediato. Ainda assim, preferiu ignorá-la e assumiu o risco de enfrentar punições por desobediência.

Kim sustentou que suas ações foram guiadas pelo compromisso com o país, não com indivíduos. Durante seu depoimento, usou uma frase que o próprio Yoon repetia quando era procurador-geral: “sirvo à nação, não a pessoas”. O tenente-coronel afirmou que preferia responder legalmente por descumprir ordens do que colocar seus subordinados em situação de risco ou envolvê-los em um crime de insurreição. Disse ainda que, naquele 4 de dezembro, não conseguiu enxergar legitimidade na missão e optou por não agir.
Defesa tenta desassociar lei marcial de golpe de Estado
Nos minutos finais da sessão, Yoon finalmente quebrou o silêncio. Em uma declaração de seis minutos, tentou despolitizar o uso da lei marcial e enquadrá-la como instrumento técnico, não como manobra golpista. Afirmou que a lei marcial, assim como uma espada, só se torna criminosa quando usada para ferir o Estado Democrático.
De acordo com ele, decretar essa medida não equivale automaticamente a uma tentativa de insurreição, a menos que haja comprovação de intenção de derrubar a ordem constitucional e instaurar uma ditadura. Em sua fala, mencionou os episódios históricos de 12 de dezembro de 1979 e 18 de maio de 1980. Nas datas, o regime militar usou a mesma medida para tomar o poder e reprimir movimentos democráticos, como o levante de Gwangju.
A juíza Ji Gui-yeon, responsável pela condução do caso, reagiu com firmeza às declarações do réu. Ela afirmou que o julgamento segue um cronograma definido e coerente, dentro dos parâmetros legais. Além disso, destacou que o Ministério Público tem o direito de apresentar todas as provas que considerar necessárias para sustentar a acusação. Alertou também que questionar a legitimidade do processo ou dos depoimentos seria uma forma equivocada de desacreditar o sistema de Justiça.
Defesa de Yoon Suk Yeol alega falta de provas
A defesa do ex-presidente, por sua vez, sustentou que não há provas concretas de que ele tenha dado ordens diretas para a ocupação do Parlamento. Insiste na tese de que as instruções dadas às Forças Armadas faziam parte de um plano emergencial, em resposta ao que classificaram como instabilidade política, e não de uma tentativa organizada de golpe. Mesmo assim, os depoimentos colhidos até agora enfraqueceram essa versão, ao revelarem interpretações unívocas entre os oficiais sobre a origem e o teor das ordens.
A próxima audiência deve ocorrer ainda neste mês, com novos testemunhos militares previstos. O julgamento de Yoon Suk Yeol segue como um dos mais emblemáticos da história política recente da Coreia do Sul, não apenas pelo conteúdo explosivo das acusações, mas pelo fato de expor publicamente os bastidores de decisões tomadas em momentos de tensão institucional.
Foto Destaque: Yoon Suk Yeol, ex-presidente da Coreia do Sul durante julgamento em Seul. Divulgação/Joint Press Corps